24/09/2018

CÂMARA DO COMÉRCIO HOMENAGEIA - Parte III



Prezados,

Continuo aqui a terceira e última parte da postagem, "Câmara do Comércio Homenageia"

Aí, em 1958 eu fui para São Paulo fui estudar, fazer o colegial. Porque São Paulo e não Porto Alegre que seria o caminho natural? Em São Paulo nós tínhamos parentes, tínhamos amigos, meu pai tinha um pequeno comércio em sociedade com um primo e as compras para as lojas eram feitas em São Paulo. Em Porto Alegre nós não tínhamos nada disso. Então, eu fui para São Paulo, fui interno num colégio Marista por 1 ano e meio, o Arquidiocesano; naquele tempo, os que me conhecem da época devem lembrar, eu tinha um pouco mais de cabelos e um pouco menos de quilos, eu tinha uma cabeleira á la Elvis Presley; acreditem se quiser, eu tinha uma cabeleira a la Elvis Presley...


Fui interno no Colégio Arquidiocesano de São Paulo, colégio Marista, centenário, um grande colégio; tenho passagens marcantes no Arquidiocesano, um aprendizado fantástico, não só de matemática, física e de português, mas de tudo. No Arqui nós visitávamos museus, nos levavam a sessões de teatro, visitávamos indústrias, eu vi pela primeira vez funcionar um teletipo. Eu tinha 15 anos, vi um teletipo numa visita ao jornal; estava sendo feito o Estadão de Domingo, que é um calhamaço famoso, né, não sei quantos quilos de jornal, centenas de páginas e estava recebendo um teletipo de Nova York, eu vi aquilo e aquilo para um guri de 15 anos é... fantástico!

Na época, através de uma academia literária que nós tínhamos, tivemos um contato muito próximo, até de visita às residências, de dois grandes nomes que foram o poeta Guilherme de Almeida e o filólogo Francisco Silveira Bueno, autor de livros; alguns dos presentes devem ter estudado pelos livros do Silveira Bueno. Através do Arquidiocesano nós tínhamos esses contatos muito amplos.

São Paulo tinha então menos de 3 milhões de habitantes, eu vi São Paulo crescer, era menor que o Rio de Janeiro; e o Rio Grande do Sul era muito desconhecido, não existia a integração que a televisão trouxe hoje. Só tinha um gaúcho lá no Arqui, que era de Pelotas, o Sérgio Soares Olivé Leite; era o único gaúcho que tinha lá, o segundo fui eu.

Naquela época tinha, aos domingos, o que é hoje a feira da Praça da República e hoje tantas outras feiras, ainda não existiam as feirinhas – aos domingos começou na Praça da República a troca de selos e troca de moedas dos colecionadores. Eu tinha coleção de selos na época, aliás, com muito orgulho, mostrava para todo o mundo, levei para São Paulo, sabe o que? Um selo centenário da Câmara de Comércio, eu tenho ainda esse selo, 1944, quando era o seu centenário e que trás a fotografia desse prédio, eu mostrava isso em São Paulo com todo o orgulho aos meus amigos “olha, eu sou daqui, olha esse selo” ... era um orgulho.

Um programa cultural muito bonito que tinha em São Paulo era no Teatro Municipal, que era de graça e na época era muito importante ser de graça. No Teatro Municipal aos domingos, “Concertos para a Juventude”, com o maestro Armando Bellardi.
Então eu acho que de Curso Colegial chega, acho que já está bom.

Aí chegou a faculdade, fiz vestibular para a Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, fui aprovado numa colocação boa, 48º em 270 que me permitia escolher qualquer curso. O xodó da época era elétrica   e mecânica. Era 1960, 61 e estava se implantado o setor automobilístico, o governo Juscelino tinha aquela explosão, mas eu queria engenharia civil. Todo mundo estranhou, falou: Mas pô, você pode escolher mecânica, mas eu queria realmente engenharia civil.


Veio a década de 60, quando eu fiz a faculdade; foi uma década muito, muito agitada. Agitação política e para São Paulo uma agitação cultural muito grande. Os que tem mais idade lembram de uma frase famosa do Vinícius: “São Paulo é o túmulo do samba”. Pois bem, na década de 60, São Paulo começou a despertar e passou a ser um centro cultural importante. Existem bares em São Paulo, da época, que me marcaram, marcaram uma história e uma época. O teatro de Arena, com importante atuação política, o João Sebastião Bar, o Jogral; jogral era um bar fantástico, o dono era um compositor, o Luís Carlos Paraná e frequentavam lá o Vanzolini, o Chico Buarque, Geraldo Vandré e eu comecei a ir no Jogral levado pelas mãos de um rio-grandino, ele já morava em São Paulo, com 9 anos a mais do que eu de  idade; além do meu pai, ele foi um segundo pai para mim, que é o Adib Salomão. Então, com o Adib e a Juçara eu passei a frequentar o Jogral. Lá no Jogral é que foi comemorada a vitória da Banda e da Disparada no  festival da Record.

Bom, aí... eu concluí a faculdade, a Escola Politécnica, entrei na carreira profissional. Ah! Eu tenho um negocinho interessante que eu gostaria de falar, a sensação, aquela história, a primeira vez a gente nunca esquece; eu tinha 16 anos e dava aulas particulares para ganhar um dinheirinho a mais e gostava de lecionar; a mãe de um aluno a quem eu dava aulas em casa me chamou de professor e de senhor, isso aí, para um guri de 16 anos, a primeira vez que me chamaram de senhor e de professor, é um negócio que marca.

Bem,  vamos voltar para a minha profissão... me formei, engenharia civil, comecei a ter uma carreira normal, e aí, um fato estranho: eu gostava, eu sempre gostei de lecionar e fui bom aluno, sempre tirei boas notas, no colégio, na faculdade, tinha facilidade para Matemática e Física e tudo indicava que eu iria para uma carreira acadêmica, que iria defender teses, me tornar doutor, mestrado, etc., tudo indicava e eu acho que até iria gostar disso. A Cláudia disse um negócio aí, que é absoluta verdade; A Cláudia disse que muitas vezes a carreira da gente vem de circunstâncias, né? Ela encontrou alguém que disse: “você vai fazer mestrado?”, nem sabia o que era e acabou fazendo. Então, a carreira da gente acaba sendo dirigida meio por uma circunstância, por contingências.
          (Exclusão 2)

Então, por essas contingências, eu segui uma carreira mais de execução; eu realmente tenho um currículo muito pobre, extremamente pobre e modesto em matéria acadêmica. Não tem nenhum título, nenhum doutorado... Na área de execução ela se torna um pouco substanciosa; começou a crescer, a alçar vôo para esse caminho na companhia do Metrô de São Paulo. Primeiro Metrô do Brasil, era um negócio desconhecido, ninguém tinha muita ideia do que era, o que seria o Metrô; e foi uma experiência fantástica. O Metrô foi uma escola de tudo, uma escola de engenharia, uma escola de tecnologia, uma escola de administração pública. Hoje, muitos quadros de administração pública pertenceram à Companhia do Metrô de São Paulo, muitos quadros e foi uma escola de relações humanas.

E eu ocupei posições importantes no Metrô; uma característica do Metrô, é a de ser um trabalho de equipe. Então, quando eu digo -a minha mãe não achava, minha mãe dizia, evidentemente, como toda mãe, “o meu filho construiu o Metrô de São Paulo!” Mãe é MÃE!

Mas realmente, essa questão de equipe, no Metrô era muito forte. Hoje, o ministro recém assumido, o Tápias, disse que fechou um acordo com os demais ministros e com o presidente e as divergências seriam discutidas internamente e não seriam levadas a público; e em público, todos teriam a mesma posição. Isso a gente já fazia no Metrô da época. Eu, em posições de gerência e de coordenador, muitas vezes tive que defender questões que eu tinha lutado contra.

Como um exemplo, a estação República. Eu tinha voltado de um período de três meses no Japão, a serviço do Metrô e em seguida, no dia que eu cheguei tive que assumir a coordenação do projeto Estação República, que já estava em andamento e que previa a demolição do Colégio Caetano de Campos, um colégio que era uma história, uma tradição e a população, através de suas entidades já havia se levantado, a sociedade toda contra a demolição do Caetano de Campos. A cidade já estava em polvorosa, quando eu tive que assumir essa coordenação. Quando tomei conhecimento dos detalhes que me passaram, achei um absurdo demolir o Caetano de Campos. Existem soluções boas que resolvem e não precisa demolir. E eu estava voltando do Japão, os japoneses são muito desenvolvidos nas questões de métodos construtivos, têm problemas de espaço e métodos que preservam, eles faziam coisas fantásticas, passaram embaixo do Palácio Imperial sem mexer no Palácio; então existiam soluções boas para o Caetano. “Não, mas agora a palavra do presidente da Companhia já está empenhada perante a opinião pública, precisa demolir”. Aí eu disse: “Não, precisa demolir, porque não tem outra solução”, mas eu era contra; é mais ou menos o que o Tápias está fazendo hoje, na Companhia do Metrô nós já fazíamos há 25 anos.

Outra historinha... Metrô é um assunto que eu fico tão à vontade, eu dei muitas palestras, ministrei cursos de Metrô; Metrô é uma pequena máfia que envolve os Metrôs do mundo inteiro, se correspondem, se reúnem, então existem congressos, eu fico tão a vontade nisso que eu tenho a tentação de ficar algumas horas aqui, mas eu vou me policiar, só vou contar uma historinha mais.
Estação Anhangabaú do Metrô. Isso aí é para quem precisa de vez em quando fazer um relatório, essa historinha é uma lição para quem precisa saber o tamanho de um relatório. Qual é o tamanho ideal para um relatório? 10 páginas, 100 páginas ou 1000 páginas?
Bom, a Estação Anhangabaú era polêmica. O projeto inicial de um grupo alemão, previa a Estação- típico de um projeto europeu, o Metrô de baixa capacidade-; em 72, com uma alteração do projeto foi eliminada a Anhangabaú, por um novo conceito, mas o assunto virou polêmica e ficou.

Em 1975 o então prefeito Setúbal, quis retomar os estudos do Anhangabaú. O Presidente da Companhia, o grande engenheiro Souza Dias, responsável por todo o projeto de eletrificação do Estado de São Paulo e todas aquelas grandes usinas, me chamou e disse:
“ Jasel, preciso de um estudo, o prefeito quer saber sobre a estação. Anhangabaú, se faz ou não se faz? Tem gente que diz que faz, outros não. Ele quer saber.”
 “Tá bom, Presidente, eu vou fazer um trabalho, assim... e disse para o que eu iria fazer, né?”

Era um trabalho de arquiteto, de urbanista, de especialista em traçado, especialista em transporte, o Metrô passando um conceito global em transporte da cidade, enfim, um estudo abrangente, tá bom assim?”, “Tá bom!” “Dois meses tá bom, Dr. Souza Dias?” Ele disse não! Hoje é segunda-feira, tenho uma reunião com o prefeito sexta, na sexta eu preciso levar esse trabalho. Ele me disse: “Jasel, sabe qual é o tamanho ideal de um relatório?” Essa é a lição: “é o tamanho de uma saia de mulher, tem que ser suficientemente curto para ser atraente e suficientemente longo para ser decente.”
“Jasel, o prefeito vai ler esse relatório. Baseado nessa leitura ele vai decidir se existe ou não.” Aí, fiz o relatório, sucinto, com dez páginas, mas bem abrangente. Eu fiz... quando falo “eu fiz”, desculpem fizemos, fizemos um trabalho de equipe, mas vocês entenderam. 
Então, fizemos um relatório, dez páginas, pediu-me para esperar, depois que voltou ás 7 horas da noite me disse: “Jasel, o prefeito leu inteiro o relatório. Então o relatório estava na medida certa”. Aprovou e mandou fazer, mandou tocar a Estação Anhangabaú. Aliás, nessa Estação, o que eu tenho orgulho é também o seguinte: nós fizemos a estimativa de custos, evidentemente num prazo curto, a partir do zero; o período foi de bem pouco tempo e a Estação foi contratada por um valor 5% abaixo; isto, em engenharia, é considerado “acertar na mosca”, apenas 5% de diferença de uma estimativa preliminar. Esse é um dos orgulhos que eu tenho, entre tantos outros, esse trabalho da Estação Anhangabaú. Bom, acho que chega de Metrô, né? A Companhia do Metrô poderia ir longe, mas vamos em frente.

Eu assumi uma diretoria de engenharia do DAEE, Departamento de Águas e Energia Elétrica, no governo Montoro, governador Franco Montoro. Eu aproveito o momento para dar um testemunho sobre Franco Montoro. Ele faleceu, recentemente, em julho e foi dito muita coisa bonita, muita gente declarou, etc. E o testemunho que eu quero dar é que tudo o que foi dito é verdade. E muito mais. Para mim foi um privilégio trabalhar com o governador Franco Montoro, um dos homens mais decentes, mais corretos que eu conheci na minha vida. No DAEE, rapidamente também, fizemos muito, foi um trabalho fantástico e o governador Montoro conseguiu uma obra ímpar no mundo: transformar Cubatão, que era chamada “a cidade da morte”, pela poluição, numa cidade padrão de ecologia. Ele despoluiu Cubatão. Isso foi trabalho do governo Franco Montoro.

Bom, lá no DAEE, entre outros tantos trabalhos, chamam a atenção as duas maiores obras urbanas do Brasil: a canalização do rio Tamanduateí que eliminou integralmente as famosas enchentes do centro e da região do mercado; hoje, quando vocês veem enchentes em São Paulo, no noticiário, aquela região, naquela obra que nós fizemos, no Tamanduateí, não tem mais; elas continuaram, mas em outras áreas. E no Tietê, fizemos um grande projeto de acabar com as enchentes e despoluir e que está em andamento; hoje temos financiamento japonês, muito grande; é demorado, mas também vai resolver o problema.

Também fui consultor de muitas empresas. Fui conselheiro do CREA, fui Diretor da Associação dos Engenheiros. Fui consultor de várias empresas e uma das minhas consultorias foi coordenar uma concorrência na Nigéria para construção de uma ferrovia. Nós ganhamos a concorrência; este também é um orgulho que eu tenho no meu currículo. Nós ganhamos a concorrência porque fizemos uma alteração no projeto que reduziu substancialmente o custo.
É um projeto aí da faixa de uns 700 milhões de dólares, uma grande ferrovia na Nigéria e graças a uma alteração no projeto que nós fizemos... Aí depois fomos tentar descobrir porque tinha aquele projeto anterior, que previa o uso de grandes camisas metálicas para execução de fundações: havia 50 pontes ou viadutos nesse projeto. Todas as fundações eram feitas com grandes camisas metálicas, de 1 cm, 1,5 cm de espessura que seriam fornecidas pelo país da empresa que estava coordenando essa concorrência para a Nigéria. Então, a Nigéria contratou uma empresa para coordenar essa concorrência e o fornecedor desse aço seria aquele país ao qual pertencia a empresa.

Nós demolimos esse “lobby” – defendendo o projeto-, a favor da Nigéria e ganhamos a concorrência. Bom, por razões políticas, infelizmente a empresa não levou porque mudou o governo, houve um golpe de Estado e tudo o que estava lá na Nigéria do governo anterior quebrou, até hoje não fizeram essa ferrovia.

Uma das lições do Metrô -eu tinha terminado o Metrô, mas tem uma liçãozinha aqui- foram os estudos de viabilidade. Fizemos vários e aprendemos que o sucesso de um estudo de viabilidade para um órgão financiador é saber avaliar:
1- Quem é o órgão financiador e qual a sua característica: se é um órgão que tem mais visão social, se é um órgão que tem mais visão monetarista;
2- Uma avaliação muito importante é a tendência da época; então, na década de 70, um estudo de viabilidade tinha que dar enfoque especialíssimo para a economia de petróleo; na década de 80, para a preservação do meio ambiente; 90, para a geração de emprego. Então, em qualquer estudo de viabilidade precisa dedicar de forma especial qual a tendência da época, qual é o grande problema. Hoje é preservação ambiental e geração de emprego.

Aí, do DAEE, eu passei para Diretor de Engenharia de uma Empresa do Governo de Estado, chamada CPOS – Companhia Paulista de Obras e Serviços, uma empresa fantástica que assumiu todas as obras do Governo do Estado, à exceção de obras especiais como habitação, usinas e saneamento. Era uma empresa nova, então eu participei da primeira Diretoria. E isso foi muito interessante: criar uma empresa é uma experiência especial em termos de Administração Pública. Como obras que chamam a atenção, lá no CPOS, posso citar o Memorial da América Latina e o Parlamento Latino-Americano, obras fantásticas, como o projeto em si, do Niemayer, como Engenharia, mas principalmente como concepção, como ideia do genial Darcy Ribeiro.

Após a CPOS, passei a Diretor da CDHU, Empresa responsável pelo Programa de Habitação Popular do Estado de São Paulo. Desde o início do Programa, em 1949, até 1995, foram construídas 180 mil unidades habitacionais; nestes 4 anos, mais 120 mil.
              (Exclusão 3)

Bem, acho que já falei muito de carreira; quero agora falar um pouco de mim. Não considero como meu maior sucesso as minhas realizações profissionais, mas o equilíbrio e harmonia que consegui sabendo dosar a dedicação ao trabalho, à família e ao lazer. Minhas filhas conhecem do mundo o que poucas pessoas na idade delas já viajaram.
De tudo o que eu falei, falei tão bonito assim, de mim, falei até com orgulho de mim, da carreira, dos sucessos, então vocês devem dizer: “O Jasel está bem, né?” Mas não estou, não! O Jasel não está.

Primeiro porque o núcleo onde eu nasci, as seis pessoas, meus pais e meus três irmãos faleceram todos. Meus irmãos não se casaram, não deixaram cunhadas, não deixaram sobrinhos, e isto é uma sensação muito estranha.
Segundo eu não estou bem também, por que não se pode estar bem, - eu tenho, apesar da minha carreira ser na área de engenharia, uma formação básica humanística, uma formação básica religiosa- não posso estar bem vendo os problemas do nosso país, os problemas do mundo, vendo as dificuldades dos meus semelhantes, vendo a violência, o desemprego.

Desemprego é um negócio que me machuca. Eu tenho feito a minha parte; resolvi manter a loja aqui em Rio Grande, o valor da tradição da loja, o nome, etc., mas também para ajudar a população vendendo – vou fazer um pouco de publicidade aqui, né? – vendendo camisetas a 1 real. Acho que com isso eu estou ajudando a população e de duas funcionárias, passei para cinco funcionárias. Todos conhecem a história do passarinho, do incêndio na floresta: o passarinho, com uma gotinha d’água, tentava apagar o incêndio e outros animais diziam: “ô passarinho, estás perdendo teu tempo!” e ele disse; “Não, a minha parte eu faço.”

Então, eu sou um passarinho tentando apagar o incêndio na floresta, a minha parte contra o desemprego eu faço. E nos cargos que eu ocupei, também a minha parte eu fiz. Só que aí com maior força. Eu sempre procurei privilegiar o que gerasse emprego. Mas, se eu não estou bem, estou otimista. Engraçado isso, né? Otimista e esperançoso. Porque eu confio no povo brasileiro e mais do que no povo brasileiro, confio no povo gaúcho, o povo da minha terra.

Confio muito. Eu tive muitas sortes e uma delas foi nascer em Rio Grande. Não é demagogia, não sou político, os meus amigos mais íntimos sabem que eu estou sendo sincero. Eu tenho orgulho de ter nascido em Rio Grande e um dos pontos fortes daqui é o povo. Que povo fantástico! Alguém perguntou ali na frente, na-entrada: “Como é, Jasel, tá muito nervoso?” Eu disse não, nem um pouco, nervoso não, mas mesmo que eu tivesse, só de chegar aqui e encontrar esse carinho, essa solidariedade, eu já teria deixado de ficar nervoso. Um dos pontos fortes daqui é o nosso povo. Dificuldades todos passam.

Quando a gente lembra que a Suécia, por exemplo, que é hoje um padrão de país desenvolvido, nasceu de um dos povos mais violentos, os Vikings; da Revolução Francesa, uma das mais violentas; e hoje são povos que estão entre os de melhor padrão de vida no mundo, a gente pensa que faz parte da história de cada povo um momento difícil. O momento difícil que estamos vivendo nós vamos superar. Vamos superar graças ao povo. Eu acho que um país só pode ser digno se conseguir dar uma vida digna para seu povo.
     (Exclusão 4)

Agora eu quero concluir.
Quero dar os parabéns à Dra. Claudia Simões, ao Ministro Ernesto Rubarth e aos seus familiares. Parabéns a esta Casa e aos seus 155 anos. Eu vou guardar com muito carinho esta solidariedade de todos vocês.
Algumas palavras para a Câmara de Comércio. Aí, eu vou fazer aquilo que os estudantes fazem e que eu fiz também, que é colar. Eu vou fazer uma cola de um trabalho que eu li, trabalho desta Casa e chega a um ponto que ele diz, e quero ler de pé:
          (Deste momento até o fim, de pé)
“E o trabalho fecundo e discreto dos homens de boa vontade que, como presidentes e diretores sempre estiveram norteando os destinos dessa prestigiosa entidade, cresce, aumenta e se avoluma extraordinariamente quando tem sido prestado sem a menor parcela de interesse ou visando honrarias pessoais, mas apenas e simplesmente buscando o engrandecimento material, moral, cultural e financeiro de nossa terra.”

Concluo dizendo que  recebo   com muita humildade,    porque esta homenagem não é só para mim. Esta é uma homenagem ao trabalho, à luta, ao sacrifício e à dedicação. Esta é uma homenagem à engenharia, ao engenheiro que leva bem-estar aos seus semelhantes quando constrói o teto, que protege; a estrada, que transporta; a água, que é vida; a usina, que traz conforto, traz riqueza. É uma homenagem ao administrador público que usa  seu conhecimento e a sua experiência para cuidar com dedicação e com dignidade do patrimônio que é coletivo.  Esta é uma homenagem aos meus amigos, generosos, leais, solidários, que sempre veem as minhas qualidades com lentes de aumento e perdoam ou minimizam os meus defeitos.

Esta é uma homenagem à memória dos meus irmãos, Jean, Jamil e Camil que deixaram marcas indeléveis nesta terra.
Esta homenagem é para Olga, Cibele, Mariane, esposa, filhas e principalmente amigas, que comigo comemoram as vitórias e que comigo sabem que cada derrota é um passo atrás para a tomada de impulso para um passo maior à frente.
Mas, acima de tudo, esta homenagem é para Chicre Neme e Anester Neme que, vindos do distante Líbano, construíram nesta terra uma vida e uma história de trabalho, de dignidade e de amor; e que, lá onde eles estão, estão com suas almas engrandecidas derramando suas bênçãos sobre todos nós.
Muito obrigado.    

ROTEIRO RESUMIDO DAS EXCLUSÕES

Exclusão 1: nascimento em 1942, caçula de 4 irmãos; algumas características dos irmãos.
Exclusão 2: descrição de estágios feitos a partir do 3º ano da faculdade, que influíram decisivamente nos rumos adotados na carreira.
Exclusão 3: maior detalhamento e passagens da vida profissional; algumas estórias interessantes ou pitorescas.
Exclusão 4: citação de outras “sortes”, além da indicada; mais informações sobre a vida pessoal e familiar; mais detalhes sobre a situação político-econômica; algumas palavras sobre o Mercosul, suas perspectivas e dificuldades atuais; citação de frases de Peron(“ O ano 2000 encontrará a América Latina unida ou dominada”) e de Bertrand Russell(“ O castigo para aqueles que não gostam de política é que serão governados pelos que gostam de política”); análise geo-sócio-econômica da cidade de Rio Grande, seu passado, situação atual e perspectivas futuras.

Foram as pessoas que cruzaram meus caminhos, que me proporcionaram momentos e oportunidades de enriquecimento  que jamais conseguiria agradece-las numa só vida. Presisaria de muito mais...
Porém, fica aqui o meu mais sincero e puro agradecimento a cada pessoa, do passado, do presente e quem sabe... do futuro.

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