MEDIOCRIDADE...
Na sociedade, cujo ar é
depravado.
Marido rico, burguesão
despreocupado,
Que foi casado com mulher
burra, mas bela,
E o filho dela é político ou
tarado.
Caixinha, obrigado!
A situação do Brasil vai muito
mal.
Qualquer ladrão é patente
nacional.
O policial quase sempre é uma
ilusão,
E a condução é artigo racionado.
Porém ladrão, isto tem prá
todo o lado.
Caixinha, obrigado!
Prezados,
Duas más notícias: tive sérios
problemas de saúde praticamente contínuos nos últimos 13 meses, e interrompi as
escritas de minhas crônicas.
Duas ótimas notícias: minha
saúde está recuperada, problemas resolvidos, e estou retomando minhas
atividades de escriba.
Foi um período difícil; talvez
venha a merecer uma crônica, mas não creio nisto por enquanto. Seria o retrato
de um período com excesso de stress e sofrimentos, e por isto o interesse para
o leitor talvez seja restrito (ou nulo?).
E o reinício veio com uma das
obras do genial Juca Chaves, reproduzida parcialmente acima. Sou fã deste gênio
desde a década 1950, seja no seu estilo “menestrel maldito” com críticas à
realidade feitas de forma contundente a tudo que mereça ser criticado, seja no
seu lado lírico, no qual existem obras de grande beleza e inspiração.
E o que
me levou a esta forma de iniciar? Tenho facilidade de associar palavras ou
fatos a músicas antigas. E, ao ver uma Estação de Metrô inaugurada quase na
porta de casa, a Estação Campo Belo, lembrei-me do trecho “e a condução é
artigo racionado”. E aí as memórias vieram: minha forte participação na
história do Metrô de São Paulo fez avivarem lembranças que passo a relatar,
principalmente a razão do título/tema escolhido.
Começo relembrando a situação
político-administrativa da Prefeitura de São Paulo. Era o período do regime
militar, no qual foi estabelecida a eleição indireta para as capitais dos
estados e para as cidades estratégicas. O Prefeito de São Paulo era o ilustre
Eng. José Carlos de Figueiredo Ferraz, um dos profissionais mais capazes e
respeitados do Brasil, e que vinha executando uma administração exemplar.
Deixou marcas indeléveis de sua administração; São Paulo deve muito ao Ferraz.
No entanto, em contrapartida, o Governo do Estado tinha um desempenho
absolutamente medíocre; era o Governador Laudo Natel.
A soma da inveja do Governador
face a atuação do Prefeito com a pressão de fortes grupos empresariais
prejudicados (exemplo gritante, entre muitos outros: o fortalecimento da Comgás
– Companhia Municipal de Gás, com imensos benefícios à população, mas
prejudicial às grandes distribuidoras) levou-o a exonerar o Prefeito,
substituindo-o pelo Economista Miguel Colassuono. Nome respeitado no meio de
economistas, jovem afável e simpático, mas com experiência nula em cargos
públicos, assume a Prefeitura de uma das maiores cidades do mundo.
O impacto na Companhia do
Metrô (na época era ainda uma empresa municipal) foi imediato. O ilustre
consultor do Metrô, Eng. Vitor Melo (Victor Froiliano Beckman de Mello), dotado
de uma retórica riquíssima, tentou organizar um movimento de protesto com a
participação dos Engenheiros da Companhia, com o princípio que o gesto do Governador tinha sido uma
agressão à cidade; para a época, porém, isto apesar de basear-se em fatos, era
algo utópico.
Agora virá a explicação do
título desta crônica, MEDIOCRIDADE.... Era o início do ano de 1973; em uma
reunião dos técnicos da Companhia do Metrô com a Diretoria estava sendo
apresentado e discutido o complexo cronograma de início da operação comercial.
Ficou definido que haveria
condições de início para cerca de um ano e meio depois, 31 de agosto de 1974,
para um trecho parcial da Linha Norte-Sul (linha azul), da Estação Vila Mariana
até o Terminal Jabaquara. Seria um fato de imenso valor histórico para São
Paulo: primeiro Metrô do Brasil, uma das maiores metrópoles, com atraso
superior a 100 anos na comparação com as principais cidades do mundo.
Na conclusão, o Presidente
Plínio Assmann telefonou ao Prefeito Colassuono informando-o, indagando se
gostaria de marcar uma solenidade e sugerindo uma data próxima, por exemplo o
dia 7 de setembro para tão importante evento.
Resposta do Prefeito Miguel
Colassuono: obrigado, Presidente. Vamos aproveitar e fazer uma homenagem ao
nosso Governador: pode marcar a solenidade e início da operação para 14 de
setembro, dia do aniversário do Governador Laudo Natel. O impacto e desencanto
dos cerca de 20 presentes foi fulminante; utilizar um patrimônio público de
imenso valor e necessidade para exercer um “puxa-saquismo” explícito, como
gratidão a quem o “presenteou” com a Prefeitura de São Paulo é... MEDÍOCRE!!!!!
A importância do Metrô era tão respeitada e admirada por todos os funcionários,
que a partir desta definição, em todas as salas e corredores da Companhia tinha placas, atualizadas
diariamente, informando que “FALTAM ........ DIAS PARA A INAUGURAÇÃO DO
METRÔ”, desde cerca de 550 dias até 1 dia.
Pertenço a uma raça e cultura, árabe, onde o
sentimento de gratidão é dos mais nobres, e obrigatório para um bom libanês;
mas isto é aceitável e elogiável utilizando-se gestos pessoais de gratidão, e
jamais um bem público desta importância. Claro que não poderia faltar, após
isto, o espírito criativo do brasileiro: o assunto, na Companhia, virou uma
mistura das maiores críticas com piadas.
Tenho um imenso orgulho de
minha fortíssima participação na implantação do Metrô de São Paulo; mas, quando
leio qualquer referência à inauguração da primeira linha de Metrô do Brasil,
sinto uma profunda VERGONHA de ter assistido a este lamentável exemplo de
MEDIOCRIDADE!