14/10/2019

MEDIOCRIDADE...


MEDIOCRIDADE...

...é um fato consumado
Na sociedade, cujo ar é depravado.
Marido rico, burguesão despreocupado,
Que foi casado com mulher burra, mas bela,
E o filho dela é político ou tarado.
Caixinha, obrigado!

A situação do Brasil vai muito mal.
Qualquer ladrão é patente nacional.
O policial quase sempre é uma ilusão,
E a condução é artigo racionado.
Porém ladrão, isto tem prá todo o lado.
Caixinha, obrigado!

Prezados, 

Duas más notícias: tive sérios problemas de saúde praticamente contínuos nos últimos 13 meses, e interrompi as escritas de minhas crônicas.

Duas ótimas notícias: minha saúde está recuperada, problemas resolvidos, e estou retomando minhas atividades de escriba.

Foi um período difícil; talvez venha a merecer uma crônica, mas não creio nisto por enquanto. Seria o retrato de um período com excesso de stress e sofrimentos, e por isto o interesse para o leitor talvez seja restrito (ou nulo?).

E o reinício veio com uma das obras do genial Juca Chaves, reproduzida parcialmente acima. Sou fã deste gênio desde a década 1950, seja no seu estilo “menestrel maldito” com críticas à realidade feitas de forma contundente a tudo que mereça ser criticado, seja no seu lado lírico, no qual existem obras de grande beleza e inspiração. 

E o que me levou a esta forma de iniciar? Tenho facilidade de associar palavras ou fatos a músicas antigas. E, ao ver uma Estação de Metrô inaugurada quase na porta de casa, a Estação Campo Belo, lembrei-me do trecho “e a condução é artigo racionado”. E aí as memórias vieram: minha forte participação na história do Metrô de São Paulo fez avivarem lembranças que passo a relatar, principalmente a razão do título/tema escolhido.


Começo relembrando a situação político-administrativa da Prefeitura de São Paulo. Era o período do regime militar, no qual foi estabelecida a eleição indireta para as capitais dos estados e para as cidades estratégicas. O Prefeito de São Paulo era o ilustre Eng. José Carlos de Figueiredo Ferraz, um dos profissionais mais capazes e respeitados do Brasil, e que vinha executando uma administração exemplar. Deixou marcas indeléveis de sua administração; São Paulo deve muito ao Ferraz. No entanto, em contrapartida, o Governo do Estado tinha um desempenho absolutamente medíocre; era o Governador Laudo Natel.

A soma da inveja do Governador face a atuação do Prefeito com a pressão de fortes grupos empresariais prejudicados (exemplo gritante, entre muitos outros: o fortalecimento da Comgás – Companhia Municipal de Gás, com imensos benefícios à população, mas prejudicial às grandes distribuidoras) levou-o a exonerar o Prefeito, substituindo-o pelo Economista Miguel Colassuono. Nome respeitado no meio de economistas, jovem afável e simpático, mas com experiência nula em cargos públicos, assume a Prefeitura de uma das maiores cidades do mundo.

O impacto na Companhia do Metrô (na época era ainda uma empresa municipal) foi imediato. O ilustre consultor do Metrô, Eng. Vitor Melo (Victor Froiliano Beckman de Mello), dotado de uma retórica riquíssima, tentou organizar um movimento de protesto com a participação dos Engenheiros da Companhia, com o princípio  que o gesto do Governador tinha sido uma agressão à cidade; para a época, porém, isto apesar de basear-se em fatos, era algo utópico.

Agora virá a explicação do título desta crônica, MEDIOCRIDADE.... Era o início do ano de 1973; em uma reunião dos técnicos da Companhia do Metrô com a Diretoria estava sendo apresentado e discutido o complexo cronograma de início da operação comercial.

Ficou definido que haveria condições de início para cerca de um ano e meio depois, 31 de agosto de 1974, para um trecho parcial da Linha Norte-Sul (linha azul), da Estação Vila Mariana até o Terminal Jabaquara. Seria um fato de imenso valor histórico para São Paulo: primeiro Metrô do Brasil, uma das maiores metrópoles, com atraso superior a 100 anos na comparação com as principais cidades do mundo.

Na conclusão, o Presidente Plínio Assmann telefonou ao Prefeito Colassuono informando-o, indagando se gostaria de marcar uma solenidade e sugerindo uma data próxima, por exemplo o dia 7 de setembro para tão importante evento.

Resposta do Prefeito Miguel Colassuono: obrigado, Presidente. Vamos aproveitar e fazer uma homenagem ao nosso Governador: pode marcar a solenidade e início da operação para 14 de setembro, dia do aniversário do Governador Laudo Natel. O impacto e desencanto dos cerca de 20 presentes foi fulminante; utilizar um patrimônio público de imenso valor e necessidade para exercer um “puxa-saquismo” explícito, como gratidão a quem o “presenteou” com a Prefeitura de São Paulo é... MEDÍOCRE!!!!! A importância do Metrô era tão respeitada e admirada por todos os funcionários, que a partir desta definição, em todas as salas e corredores da Companhia tinha placas, atualizadas diariamente, informando que “FALTAM ........ DIAS PARA A INAUGURAÇÃO DO METRÔ”, desde cerca de 550 dias até 1 dia.

Pertenço a uma raça e cultura, árabe, onde o sentimento de gratidão é dos mais nobres, e obrigatório para um bom libanês; mas isto é aceitável e elogiável utilizando-se gestos pessoais de gratidão, e jamais um bem público desta importância. Claro que não poderia faltar, após isto, o espírito criativo do brasileiro: o assunto, na Companhia, virou uma mistura das maiores críticas com piadas.

Tenho um imenso orgulho de minha fortíssima participação na implantação do Metrô de São Paulo; mas, quando leio qualquer referência à inauguração da primeira linha de Metrô do Brasil, sinto uma profunda VERGONHA de ter assistido a este lamentável exemplo de MEDIOCRIDADE!