Prezados,
Uma das principais atrações turísticas da cidade do
Rio Grande e de sua Praia do Cassino! Imperdível!
No entanto considero difícil decidir o que é mais
fascinante, se os atrativos e belezas que tanto encantam os visitantes, ou a
magnífica história de sua implantação devida à importância histórica e
comercial e por ser uma das maiores obras de Engenharia Portuária do mundo. Vou
tentar fornecer a Você, leitor, dados sobre os dois aspectos envolvidos para
uma comparação.
1- OS MOLHES PARA OS VISITANTES
A Lagoa dos Patos e o Porto de Rio Grande, um dos
mais importantes do país, têm acesso a partir do Oceano através do Canal do Rio
Grande. Para garantir a profundidade necessária à navegação foram construídos,
a partir das praias de Rio Grande (Praia do Cassino) e São José do Norte, duas
muralhas longitudinais de pedra adentrando o oceano em cerca de 4 km. A mais
frequentada e de acesso mais fácil é a do lado sul, Cassino.
Vamos listar
alguns atrativos para os visitantes:
-a atração mais pitoresca, por ser atípica: no meio existem trilhos
ferroviários por onde correm pequenas vagonetas abertas, da praia até a ponta
no oceano. Existem várias, tocadas por vagoneteiros, com capacidade para cerca
de dez pessoas.
A energia? Eólica! São dotadas de velas e o vento
gera seu movimento. O passeio de ida e volta, com algumas paradas no caminho e
na extremidade, demanda cerca de uma hora.
Ao se cruzarem vagonetas em sentidos opostos, uma
delas é retirada dos trilhos e recolocada após a passagem da outra.
-outra forma de passeio é caminhando, até uma parte do caminho ou até a
ponta para os mais animados.
-o local é excelente para pesca. Muitos acampam nas pedras e até passam
a noite inteira para praticá-la. Até a década 1960 assisti ali a vários
campeonatos internacionais de pesca, sempre no mês de novembro; não tenho
conhecimento de que ainda existam.
-as vistas são magníficas, lindas, de perder o fôlego; já vi muita
gente chorando de emoção diante da beleza da paisagem; constitui uma exceção à
monotonia visual do litoral gaúcho.
Adentrando lentamente até quase alto-mar (4km.),
vendo de um lado a praia lotada de banhistas e do outro o canal de acesso ao
porto com muitos navios grandes entrando, vendo os leões marinhos que se
abrigam nas pedras, os golfinhos, os
peixes e os demais animais pulando; apreciando os contrastes dos efeitos
visuais e multicoloridos do pôr do sol e do nascer do sol (sim, ou madrugamos
ou nos deslocamos da festa ou baile do Clube SAC ou de outras para ver o sol raiar); tudo isto é
de uma beleza indescritível.
-geralmente em época de verão o
mar ali é bastante calmo. Eventualmente deparamos com ondas maiores que ao
impacto com as pedras chegam a molhar os visitantes. No inverno já é menos
recomendável fazer este passeio.
Lembro de uma vez em 1958, eu estudante
interno em São Paulo, vi uma grande reportagem no Estadão com fotos de uma
tempestade no Rio Grande que chegou a destruir os trilhos, que ficaram
contorcidos.
-na praia que dá acesso aos molhes, também no verão, forma-se uma
concentração de público e de trailers/lanchonetes. Em geral a higiene e a
qualidade das bebidas e lanches são muito boas (isto vale posso dizer, para
toda a cidade e o Cassino).
Para isto contribui, com certeza, o já renomado
padrão de qualidade em alimentação do Rio Grande do Sul, e também meu grande amigo
Arizinho Féris quando Secretário da Saúde da Prefeitura do Rio Grande,
rigorosíssimo nas exigências sanitárias. Há muito tempo que não vejo e não
tenho notícias do “Cabeça” e da Dona Vera, autora do melhor pastel de camarão
do planeta; já mereceu até uma citação em crônica do Luiz Fernando Veríssimo.
Aposentaram-se? Para entender o porquê do apelido “Cabeça”, não precisa muito:
bastaria conhece-lo, dispensa explicações!
2- OS MOLHES – SUA HISTÓRIA
A cidade do Rio Grande, fundada em 1737 por Portugal, foi o início da
ocupação do Estado. Isto se deve à sua localização, estratégica para uma época
em que a navegação era o transporte entre a Europa e a América. A cidade está
situada na extremidade sul da Lagoa dos Patos, onde o Canal do
Rio Grande liga o oceano à Lagoa. E, como as características do litoral
gaúcho não permitem grandes portos, Rio Grande possui o único porto marítimo do
estado.
No entanto, devido às condições físicas e geográficas, tais como
ventos, correntes marítimas, conformação das praias, entre outras, o acesso à
Lagoa dos Patos sempre foi extremamente dificultado pelas alterações dos bancos
de areia no canal. De início, devido às disputas pela posse entre Portugal e
Espanha, existia uma importância estratégica militar fundamental para acessar o
porto: entre Colônia do Sacramento, fundada por Portugal onde hoje é Uruguai, e
o Rio de Janeiro, era necessário um ponto de apoio nos deslocamentos de tropas,
afora o porto de Laguna, em Santa Catarina.

A fundação da cidade deu-se com a construção do Forte Jesus Maria José.
Posteriormente, tendo o sul já se tornado um grande produtor de alimentos, as
trocas comerciais passaram a ter grande importância. Charque, depois carne e
trigo, faziam parte deste conjunto. E as dificuldades de acesso eram conhecidas
por todos os navegantes e governos do mundo, existindo relatos de navios
parados por vários dias à espera de poder entrar, e de muitos navios
encalhados. Esta situação, e mais as violentas tempestades em época de inverno,
resultaram na denominação de “cemitério de navios” para a região. Os restos do
navio Altair naufragado em 1976, na praia a cerca de 20km. dalí, além de serem
atualmente uma curiosa atração turística, constituem uma amostra da situação
exposta acima.
Rio Grande já havia se tornado um grande centro, e seus dirigentes
junto com a Câmara de Comércio faziam muitas gestões políticas para solucionar
o problema da dificuldade de acesso. Felizmente o Governador Leonel Brizola, quando governou nas décadas 1950-1960,
não conseguiu seu intento de valorizar o porto de Porto Alegre com seu projeto
de mais um canal ligando a Lagoa dos Patos ao oceano; os estudos à época
revelaram que seria um desastre ecológico, pois iria tornar salgadas as águas
da lagoa, com prejuízos imensos. Além, claro, do grande prejuízo econômico para
a cidade de Rio Grande.
O século XIX foi muito rico em estudos e projetos para o acesso ao
porto. Dom Pedro II, em duas visitas à cidade, fez acelerar os estudos. A
execução das obras veio a ocorrer somente
no início do século XX, pois os interesses comerciais envolvidos, face a
grandiosidade da obra, geraram tumultos e dificuldades contratuais. As pedras
vieram do Município de Capão do Leão, distante quase 100km, transportadas por
ferrovia construída simultânea e especialmente para esta obra.
Mesmo os molhes tendo cumprido sua finalidade de prolongar a
profundidade do canal até um ponto já profundo do oceano, para os procedimentos
de acesso ainda se mantem a necessidade do trabalho conjunto entre o comando
dos navios e a equipe de praticagem da barra, existente desde os tempos do
império. Não sei se existe exigência legal de contratar um prático, mas a
operacional é imprescindível; já aconteceram (raros) casos de comandantes de
navios, principalmente estrangeiros, dispensarem estes serviços por economia e
gastarem muito mais em desatolar seus navios.
Finalizo com uma sugestão: não se preocupem com o que é mais atrativo,
se as belezas do lugar ou sua história fascinante. Visitem!
Os que já conhecem a região, como eu, não se cansam de repetir o
passeio.
Aos que ainda não foram, tenho certeza de que terão momentos
inesquecíveis.
Abraço.