O povo libanês, descendente dos fenícios, tem como uma das principais
características, o talento comercial. Isto se manifesta de várias maneiras no
comportamento rotineiro e é usado de forma espontânea, automática.
Posso ser considerado “vergonha da raça”, pois não tenho, neste setor,
nada de libanês em meus conceitos e em meus comportamentos. Vou relatar um fato
que exemplifica este conceito.
Na minha faixa etária dos 10 aos 15 anos, ainda morando em Rio Grande,
precisei ir diversas vezes a Pelotas (a apenas 50 km) para fazer alguns
serviços (documentos, livros, apostilas, etc...) do Camil, meu irmão, referentes à Faculdade
que ele cursava.
Ia quase sempre de trem que era eficiente e econômico, além de seguro,
uma criança podia viajar sozinha sem cogitar de possíveis violências.
Certa vez, calor e com sede, entrei num bar e pedi um copo de água
gelada. Na época não tínhamos a cultura e o hábito de tomar água mineral, que
era considerada tratamento para quem
tivesse algum problema de saúde. A água que pedi foi servida e COBRADA. Fiquei
surpreso, pois em Rio Grande era comum pedir água (não mineral) em qualquer
lugar e não era mercadoria a ser vendida e paga.
Algum tempo depois, já com 15 anos, fui estudar em São Paulo, no
Colégio Arquidiocesano. Lá conheci e fiquei muito amigo de outro gaúcho,
pelotense, SÉRGIO SOARES OLIVÉ LEITE, que depois tornou-se médico e dono de uma
grande clínica psiquiátrica fundada por seu pai, em Pelotas. Mas nossa boa
amizade não impediu que aflorasse a velha e famosa rixa Rio Grande e Pelotas,
nós “papareias” versus eles, “sebeiros”.
Sempre em tom amigável e brincalhão e mantendo a boa amizade, vinham os
comentários e críticas aos “podres” de cada cidade. Então, numa dessas,
“soltei” o fato da cobrança do copo d´água, qualificando-o como absurdo,
abusivo, desumano, etc... Veio então, por parte do Sérgio, a “aula” de economia
que em mim ficou inesquecível:
“Jasel, o dono do bar dispendeu tempo e mão de obra para encher o
filtro, depois para passar a água filtrada para a garrafa e colocar na
geladeira, depois tirar da geladeira e servir no copo, depois para lavar e
guardar o copo. Gastou energia elétrica para gelar, gastou água e sabão na
lavagem do copo, etc... E ali era um estabelecimento comercial, seu local de
trabalho. Por que não haveria de cobrar?”
Lógica irretorquível foi para mim uma lição de vida. Adotei a mesma
lógica na minha vida e em minha profissão de Engenheiro Civil. Tornei-me
altamente competente na elaboração de orçamentos, tanto em atividades pessoais
como profissionais, e disto tenho muitos exemplos de experiências de sucesso.
Meu bom amigo SÉRGIO. Devo isto à aula que Você me deu no pátio do
Colégio Arquidiocesano.
Obrigado, amigos.
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