Prezados,
Continuação da postagem anterior. (Para não cansá-los, dividi a postagem em pequenas partes)
NOTAS PRELIMINAES
- Palestra de Eng. Jasel Neme em 24 de setembro de 1999, no
auditório da CÂMARA DE COMÉRCIO DA CIDADE DO RIO GRANDE, como parte da
programação da homenagem com o título de Rio-grandino ilustre.
- A mesa foi composta pelo Presidente da Câmara de Comercio,
Eng. CLOVIS KLINGER e pelos homenageados, Dra. CLÁUDIA MARIA OLIVEIRA SIMÕES,
Min. ERNESTO OTTO RUBARTH e Eng. JASEL NEME.
- Os três homenageados apresentaram palestras narrando suas
respectivas experiências pessoais e profissionais, sendo a minha, a terceira.
-O texto a seguir foi reconstituído de gravação parcial, de
roteiro-resumo da palestra e da memória. Por conveniência de tempo e horário,
foram excluídas algumas partes que estavam previstas; estas exclusões estão
indicadas no decorrer do texto abaixo e reproduzidas de forma esquemática no
fim.
- Na apresentação feita pelo Presidente, Eng. Clóvis
Klinger, foi dito (mais ou menos) que “.... O Jasel está ansioso para falar”, o
que serviu de “gancho” para o início da seguinte
PALESTRA:
É! ... Eu disse ao Presidente, alguns minutos atrás, do
risco que ele estava correndo ao me ceder a palavra; eu não chego a ser um
Fidel Castro que discursa 8, 10 horas, mas me dar a palavra é um risco muito
grande. Mas eu prometo me policiar e já encarreguei aí uma certa pessoa para me
policiar também.
Caro Presidente, Clóvis Klinger; cara Claudia; caro Ernesto;
Senhoras e Senhores...
Uma vez eu recebi a visita de alguns empresários japoneses
que pretendiam se introduzir no Brasil; na época eu estava trabalhando no METRÔ
de São Paulo e eles diziam da excelência de seus serviços, dos equipamentos,
das pesquisas, do excelente atendimento ao cliente e que faziam isso, que davam
o melhor de si para compensar o fato de ser uma empresa nova, empresa que não
tinha tradição, como tantas outras. Eu perguntei: qual a idade da empresa? Tem
90 anos... Só!
Então, entre tantas outras coisas que sei do Japão, das
diferenças do Brasil, essa foi uma das que eu aprendi que os padrões lá são
diferentes dos nossos. Que para nós, às vezes, 15 anos já é uma tradição; 20,
30, 40, nem se fale.
Então, eu quero que as minhas primeiras palavras sejam de
saudação a esta Casa que, com 155 anos, representa toda uma história e motivo
de justo orgulho para todos nós rio-grandinos. Inicialmente minha saudação à
Câmara do Comércio.
E quando esta Casa resolve homenagear este filho, com todo o
peso desta história e desta tradição, este humilde filho de Rio Grande sente-se
muito emocionado. Muito emocionado e extremamente feliz.
Eu agradeço aos Diretores e Conselheiros por esta alegria,
por esta grande honra que recebi. Foi uma generosidade e é a mesma generosidade
do povo da minha terra e é a mesma generosidade com que foram recebidos os meus
antepassados aqui na década de 10, década de 20. A mesma generosidade com que
meus avós e meus pais se integraram na sociedade rio-grandina e essa
generosidade me emociona muito.
Meus antepassados se integraram muito facilmente em Rio
Grande e deixaram marcas nesta cidade. O meu Avô tornou-se cedo um, entre
aspas, um “cônsul” dos libaneses em Rio Grande; era ele quem recebia todos os
outros imigrantes e os encaminhava. Meu pai abriu a primeira loja em 1927, meu
avô tinha a “Casa Numa” ali na esquina da “24 com a Vice Almirante Abreu”.
Naquele monumento que tem ali na Praça Montevidéu, que é uma
homenagem da colônia libanesa, o discurso na inauguração foi feito pelo meu
tio, o tio Fuad; o senador Romeu Tuma, que todos conhecem, mas poucos sabem, o
pai dele imigrou da Síria, não era Líbano, para Rio Grande; chegou aqui e o meu
avô foi quem o recebeu e o próprio senador conta essa história, às vezes; o pai
do senador mudou-se para Pelotas, foi jogador de futebol, depois mudou-se para
o interior de São Paulo, onde nasceram os filhos.
Minha infância aqui foi muito bonita e o Ernesto roubou um
pouco do que eu iria dizer então, o que ele disse, vale para mim também: que é
uma cidade gostosa, agradável, bonita, que deixa muitas saudades. Os amigos
ainda lembram os sanduíches que minha mãe fazia e um deles era o “bauru”;
ninguém conhecia bauru em Rio Grande e como nós tínhamos um contato muito
grande com São Paulo, nós “importamos” o bauru.
Alguns dos presentes lembram isso, certo? Outra “importação”
nossa foi o Bom Bril, era uma novidade que conhecemos em São Paulo; então o
Camil, meu irmão, que sempre foi muito criativo em matéria de negócios, né?
-então o Camil “importou” um caminhão de
Bom Bril, de São Paulo para cá, encheu a vitrine da loja, da Modesta, na época,
encheu a vitrine de Bom Bril e fez um concurso: quem adivinhava quantos:
quantos Bom Bril ( existe plural de Bom Bril ? Quantos Bom Bris, fica feio,
né?), então quantos Bom Bril existem lá, fez um concurso...
A infância da matinê do Carlos Gomes, a infância do sorvete
de creme do português, a infância do Cassino, da SAC, ainda atrás do hotel
Atlântico, o barracão. Tem uma historinha que eu garimpei na memória e que eu
quis trazer para cá, - tem gente que está aqui presente que vai lembrar – a
história do osso na aula de latim. O professor de latim era o irmão Hermes, que
era também diretor do São Francisco e alguém, algum colega achou um osso no
pátio, um osso grande, devia ter uns 20, 30 centímetros, e levou para a sala e
foi passando de mão em mão até que o diretor descobriu e mandou fazer o caminho
inverso, para descobrir quem foi o autor da brincadeira. Eu me lembro até que
um dos colegas, o Moacir, muito criativo, brincalhão, escreveu uma poesia de
umas 15 estrofes. Eu me lembro de duas:
“Um osso no pátio achado
Na aula veio parar
O diretor quis fazer
Dele seu rico manjar
O diretor ao ver na aula
De mão em mão o pobre osso
Quis leva-lo pra uma sopa
Mas não lhe passou no pescoço”
Bom, o fato é que por que eu quis trazer essa historinha? Porque
eu tenho marcada como um dos momentos de solidariedade que é uma das
características do povo da minha cidade. Quando o osso chegou no colega que
tinha sido o autor, o iniciador da brincadeira, o colega ao lado esticou a mão
para pegar o osso e assumiu; aí, o outro do lado assumiu e pegou também; e o
osso ficou girando em falso e o diretor não descobriu quem foi o autor e o
castigo veio para todos igualmente. Então, essa eu acho uma história bonita.
Por isso, eu quis trazê-la.
Espero vocês no próximo post.