28/08/2018

CÂMARA DE COMÉRCIO HOMENAGEIA – Parte II



Prezados,

Continuação da postagem anterior. (Para não cansá-los, dividi a postagem em pequenas partes)

NOTAS PRELIMINAES

- Palestra de Eng. Jasel Neme em 24 de setembro de 1999, no auditório da CÂMARA DE COMÉRCIO DA CIDADE DO RIO GRANDE, como parte da programação da homenagem com o título de Rio-grandino ilustre.
- A mesa foi composta pelo Presidente da Câmara de Comercio, Eng. CLOVIS KLINGER e pelos homenageados, Dra. CLÁUDIA MARIA OLIVEIRA SIMÕES, Min. ERNESTO OTTO RUBARTH e Eng. JASEL NEME.
- Os três homenageados apresentaram palestras narrando suas respectivas experiências pessoais e profissionais, sendo a minha, a terceira.
-O texto a seguir foi reconstituído de gravação parcial, de roteiro-resumo da palestra e da memória. Por conveniência de tempo e horário, foram excluídas algumas partes que estavam previstas; estas exclusões estão indicadas no decorrer do texto abaixo e reproduzidas de forma esquemática no fim.
- Na apresentação feita pelo Presidente, Eng. Clóvis Klinger, foi dito (mais ou menos) que “.... O Jasel está ansioso para falar”, o que serviu de “gancho” para o início da seguinte

PALESTRA:

É! ... Eu disse ao Presidente, alguns minutos atrás, do risco que ele estava correndo ao me ceder a palavra; eu não chego a ser um Fidel Castro que discursa 8, 10 horas, mas me dar a palavra é um risco muito grande. Mas eu prometo me policiar e já encarreguei aí uma certa pessoa para me policiar também.
Caro Presidente, Clóvis Klinger; cara Claudia; caro Ernesto; Senhoras e Senhores...

Uma vez eu recebi a visita de alguns empresários japoneses que pretendiam se introduzir no Brasil; na época eu estava trabalhando no METRÔ de São Paulo e eles diziam da excelência de seus serviços, dos equipamentos, das pesquisas, do excelente atendimento ao cliente e que faziam isso, que davam o melhor de si para compensar o fato de ser uma empresa nova, empresa que não tinha tradição, como tantas outras. Eu perguntei: qual a idade da empresa? Tem 90 anos... Só!

Então, entre tantas outras coisas que sei do Japão, das diferenças do Brasil, essa foi uma das que eu aprendi que os padrões lá são diferentes dos nossos. Que para nós, às vezes, 15 anos já é uma tradição; 20, 30, 40, nem se fale. 

Então, eu quero que as minhas primeiras palavras sejam de saudação a esta Casa que, com 155 anos, representa toda uma história e motivo de justo orgulho para todos nós rio-grandinos. Inicialmente minha saudação à Câmara do Comércio.

E quando esta Casa resolve homenagear este filho, com todo o peso desta história e desta tradição, este humilde filho de Rio Grande sente-se muito emocionado. Muito emocionado e extremamente feliz.

Eu agradeço aos Diretores e Conselheiros por esta alegria, por esta grande honra que recebi. Foi uma generosidade e é a mesma generosidade do povo da minha terra e é a mesma generosidade com que foram recebidos os meus antepassados aqui na década de 10, década de 20. A mesma generosidade com que meus avós e meus pais se integraram na sociedade rio-grandina e essa generosidade me emociona muito.

Meus antepassados se integraram muito facilmente em Rio Grande e deixaram marcas nesta cidade. O meu Avô tornou-se cedo um, entre aspas, um “cônsul” dos libaneses em Rio Grande; era ele quem recebia todos os outros imigrantes e os encaminhava. Meu pai abriu a primeira loja em 1927, meu avô tinha a “Casa Numa” ali na esquina da  “24 com a Vice Almirante Abreu”.  

Naquele monumento que tem ali na Praça Montevidéu, que é uma homenagem da colônia libanesa, o discurso na inauguração foi feito pelo meu tio, o tio Fuad; o senador Romeu Tuma, que todos conhecem, mas poucos sabem, o pai dele imigrou da Síria, não era Líbano, para Rio Grande; chegou aqui e o meu avô foi quem o recebeu e o próprio senador conta essa história, às vezes; o pai do senador mudou-se para Pelotas, foi jogador de futebol, depois mudou-se para o interior de São Paulo, onde nasceram os filhos.
          
(Exclusão 1)
Minha infância aqui foi muito bonita e o Ernesto roubou um pouco do que eu iria dizer então, o que ele disse, vale para mim também: que é uma cidade gostosa, agradável, bonita, que deixa muitas saudades. Os amigos ainda lembram os sanduíches que minha mãe fazia e um deles era o “bauru”; ninguém conhecia bauru em Rio Grande e como nós tínhamos um contato muito grande com São Paulo, nós “importamos” o bauru.

Alguns dos presentes lembram isso, certo? Outra “importação” nossa foi o Bom Bril, era uma novidade que conhecemos em São Paulo; então o Camil, meu irmão, que sempre foi muito criativo em matéria de negócios, né? -então o Camil  “importou” um caminhão de Bom Bril, de São Paulo para cá, encheu a vitrine da loja, da Modesta, na época, encheu a vitrine de Bom Bril e fez um concurso: quem adivinhava quantos: quantos Bom Bril ( existe plural de Bom Bril ? Quantos Bom Bris, fica feio, né?), então quantos Bom Bril existem lá, fez um concurso...

A infância da matinê do Carlos Gomes, a infância do sorvete de creme do português, a infância do Cassino, da SAC, ainda atrás do hotel Atlântico, o barracão. Tem uma historinha que eu garimpei na memória e que eu quis trazer para cá, - tem gente que está aqui presente que vai lembrar – a história do osso na aula de latim. O professor de latim era o irmão Hermes, que era também diretor do São Francisco e alguém, algum colega achou um osso no pátio, um osso grande, devia ter uns 20, 30 centímetros, e levou para a sala e foi passando de mão em mão até que o diretor descobriu e mandou fazer o caminho inverso, para descobrir quem foi o autor da brincadeira. Eu me lembro até que um dos colegas, o Moacir, muito criativo, brincalhão, escreveu uma poesia de umas 15 estrofes. Eu me lembro de duas:

“Um osso no pátio achado
  Na aula veio parar
  O diretor quis fazer
  Dele seu rico manjar

  O diretor ao ver na aula
  De mão em mão o pobre osso
  Quis leva-lo pra uma sopa
  Mas não lhe passou no pescoço”

Bom, o fato é que por que eu quis trazer essa historinha? Porque eu tenho marcada como um dos momentos de solidariedade que é uma das características do povo da minha cidade. Quando o osso chegou no colega que tinha sido o autor, o iniciador da brincadeira, o colega ao lado esticou a mão para pegar o osso e assumiu; aí, o outro do lado assumiu e pegou também; e o osso ficou girando em falso e o diretor não descobriu quem foi o autor e o castigo veio para todos igualmente. Então, essa eu acho uma história bonita. 

Por isso, eu quis trazê-la.

Espero vocês no próximo post.

21/08/2018

Câmara do Comércio Homenageia

Prezados, 


Fundada em 25 de setembro de 1844, a Câmara de Comércio da Cidade do Rio Grande é a mais antiga do Rio Grande do Sul e a quarta do Brasil. É uma entidade formada pela classe empresarial e possui desde seu início uma história de lutas e realizações em prol da cidade. Para mim foi uma grande honra e emoção, que recebi com muita humildade, ser por ela homenageado com o título de riograndino ilustre.


Nascido lá, em 2 de dezembro de 1942, filho mais novo e “temporão” de quatro (meu irmão mais “próximo” é 9 anos e meio mais idoso) de imigrantes pequenos comerciantes libaneses, saí de lá aos 15 anos para estudar o Colegial e Faculdade em São Paulo.

Em 1999, eu com 56 anos, amigos levaram à Diretoria meu “curriculum”, e foi entendido que eu estaria habilitado a ser homenageado. Ocorreu, então, uma grande festa pelos 155 anos de fundação e, entre as comemorações, foram indicados três nomes a receber o título de RIOGRANDINO ILUSTRE, concedido a pessoas nascidas em Rio Grande e que desenvolveram trabalhos dignos de nota fora da cidade. Também incluídos mais dois nomes a receber o TROFÉU CÂMARA DE COMÉRCIO,  concedido a quem, independentemente do local de nascimento, fez algo benéfico à cidade de Rio Grande.

Para o primeiro caso, além de mim receberam o mesmo título a Dra. Cláudia Simões, pesquisadora na Universidade de Santa Catarina e o Ministro Ernesto Otto Rubarth, diplomata que atua nas embaixadas e consulados brasileiros em diversas cidades do mundo. O troféu foi destinado a um riograndino, Germano Toralles Leite, empresário e fundador de dois destacados jornais na cidade e ao empresário inglês William Salomon, proprietário da Wilson Sons, uma das empresas sócias do TECON – Terminal de Containers, importantíssimo segmento operacional do Porto de Rio Grande.
As comemorações do aniversário da Câmara de Comércio são precedidas todos os anos de grande divulgação pela imprensa, e tem para a cidade importância compatível com a história e o prestígio da entidade. Para mim, além do significado da homenagem, foram dias de muita emoção por rever e reunir pessoas amigas de muitas décadas, e com as quais não tinha contato por morar fora da cidade. O evento constou de dois programas, ambos no mesmo dia, 24 de setembro de 1999, uma sexta-feira.

À tarde, no Auditório da entidade os três riograndinos ilustres apresentaram palestras narrando suas histórias de vida, sendo a minha a última das apresentações. Comparecimento de grande número de pessoas, muitas das quais eram antiquíssimas amizades de meus pais e de meus irmãos, o que resultou em momentos de extrema emoção quando pronunciei minha palestra que foi gravada por minha filha Nani, o que permitiu sua reconstituição em texto e que apresento adiante nesta crônica.

À noite, no Salão Nobre, aconteceu um grande banquete e a entrega de troféus aos homenageados. Presentes toda a sociedade e autoridades da cidade, incluídos o Prefeito Wilson Matos Branco, secretários, vereadores, deputados, Comandantes Militares das três Forças Armadas, o Bispo, a imprensa, entre outros.

Antes do início os organizadores solicitaram que os homenageados indicassem um dos nomes para dirigir uma saudação aos presentes; por quase unanimidade (menos o voto da eleita) foi indicada a Cláudia Simões, que pediu dispensa e solicitou que eu desempenhasse a missão. Procurei faze-lo da melhor forma possível, e a opinião geral posterior confirmou isto, inclusive as publicações em toda a imprensa. Recebi muitos elogios.

Além da programação oficial, descrita acima, organizamos para o dia seguinte uma reunião no Hotel Atlântico, que constou de um jantar dançante para cerca de 100 convidados, e principalmente de muita alegria e confraternização. Foram momentos mágicos e inesquecíveis.
De tudo o que foi dito ficaram muitas alegrias e momentos de muita emoção. No entanto, ficou uma frustração: a ausência dos parentes e amigos de São Paulo. Além de nós, Olga, Ci e Nani , veio apenas um amigo, Mário Bonaldi (o Gu).

A seguir apresento a reconstituição da PALESTRA apresentada na reunião da tarde.

Até mais... na próxima postagem.