26/04/2018

NASA / Expedito



Prezados,


Com grande divulgação na imprensa, foi formado um grupo multinacional de cientistas para estudos astronômicos, aproveitando uma oportunidade única, quase impossível de voltar a acontecer, de um eclipse solar que iria ocorrer em 12 de novembro de 1966.

Formaram-se vários pontos de observação e pesquisa, mas o mais importante foi na Praia do Cassino, em Rio Grande. Foi montada uma imensa estrutura para lançamento de foguetes pela NASA, com dezenas de prédios, plataformas, abertura de ruas, radares, computadores, trailers equipados com instrumentos, etc... Participaram vários países, e na época, falou-se em cerca de quatrocentos cientistas participantes, de diversas origens. 
Foi algo de uma grandiosidade nunca vista até então no Brasil. E, no “meu” Cassino...
Claro que eu não poderia perder esta. Junto com outro rio-grandino Adib Salomão e sua esposa Juçara, vencemos 1400 km num fusquinha para assistir o grande momento. E foi realmente um GRANDE momento. Resolvi que iria assistir dentro do mar.

Calor, sol forte e um dia lindo, entrei no mar e, pouco depois das 11 horas começou a escurecer e bater um vento suave e fresquinho. O dia virou noite, escuridão total, iluminada apenas pelos foguetes que iam sendo lançados. Foram muitos.  Não sei a quantidade, talvez quinze a vinte. A beleza e a emoção do momento são indescritíveis e inesquecíveis. Foi rápido e, em alguns minutos voltou a clarear e tudo retornou ao normal. Ou quase. Nas memórias dos que lá estavam a marca ficou indelével.

Hoje ainda se encontram algumas ruínas das estruturas, e os moradores mais antigos ainda comentam o fato. Uma pequena NASA, e no “meu” Cassino!

Ao relatar isto, ocorreu-me outro caso: uma sugestão. Creio que ainda dá para conseguir o livro “O homem que morreu três vezes”, do jornalista Fernando Molica; Leiam! Conta as aventuras de um personagem atípico, Antônio Expedito Carvalho Pereira (foi também Perera); de tão rocambolesco, parece um romance de ficção, mas não é.  Era TUDO VERDADE! Expedito era nosso amigo.

Na continuação da história acima, sobre a NASA, o Adib levou um puxão de orelhas do Zé, o irmão médico, por ter vindo de carro com  a Juçara grávida. Iriam então deixar o carro em Rio Grande, mas eu me dispus a levá-lo a São Paulo. Fiz este caminho dezenas de vezes, depois da construção da BR-2, atual BR-116, no governo JK. Deixei o casal no Aeroporto em Porto Alegre, e segui viagem.

Entrando, encontraram o Expedito, que ao saber que eu iria sozinho, quis ir junto, mas não deu tempo. Quando correram para a rua eu estava já na pista de velocidade da rodovia, e concluíram que nenhum táxi iria me alcançar. Se tivesse ido comigo, provavelmente eu estaria depois nos arquivos do SNI – Serviço Nacional de Informações, que monitorava a vida de qualquer suspeito. Quem era Expedito?

Gaúcho como eu, advogado, inteligência brilhante, dotado de gostos caros e sofisticados (quando preso político, usava na cadeia “robe de chambre” de seda da melhor qualidade para fumar seu cachimbo), conseguiu na política mobilizar-se entre as extremas direita e esquerda. Mudou-se para São Paulo por razões políticas ocorridas no R.G.do Sul, e nos tornamos amigos através do Adib, que o ajudou muito. 

Próximos passos da história: escondeu em sua casa o procuradíssimo Carlos Lamarca. Estava num grupo de 70 presos que foram trocados pelo sequestro de um embaixador, e foi para o Chile, em seguida, estabeleceu-se em Paris, onde abriu uma loja no ramo de artes, mas era disfarce para outra atividade: tornou-se parceiro do famoso Carlos Chacal, considerado à época o maior terrorista do mundo; fugindo da França, estabeleceu-se na Itália, com nome falso – Paulo Parra – onde abriu uma clínica de Psicologia. Tenho a convicção de que sua história daria um bom filme. 

Acho que algum cineasta ainda irá descobrir isto.
Mas isso é outra história!

Encaminhe seus comentários.


18/04/2018

Estudantina



 Prezados,


Década de 1980, extertores do regime militar, formávamos um grupo político sob a liderança do Sílvio (Sílvio Silvado Siqueira), que à época filiou-se ao PDT, criado por Leonel Brizola após a “perda” da histórica sigla PTB.

Nas eleições de 1982 o grupo trabalhou pelas candidaturas de Rogê Ferreira para governador e dos demais nomes para senado e câmara federal. Para deputado estadual foi lançada a candidatura do Sílvio.

Algum tempo depois ocorreu um congresso da Internacional Socialista no Rio de Janeiro e do nosso grupo reunimos quatorze casais para participar. Nossa hospedagem foi em um bom hotel antigo e confortável, no centro da cidade, onde conseguimos uma excelente tarifa comparando com outros das regiões praianas.

Durante o dia tínhamos as atividades políticas e à noite saíamos para passeios, geralmente em grupo. Uma noite fomos todos para um dos marcos do Rio de Janeiro: a Estudantina, tradicional gafieira, na Praça Tiradentes, um dos berços da bossa nova e ponto importantíssimo da MPB. Respeitando o famoso REGULAMENTO DA GAFIEIRA estampado na parede, vinte e oito paulistanos na noite carioca curtiram, curtiram, curtiram...

Estando próximo do horário do encerramento, lá pelas cinco da manhã, nenhum sinal de cansaço ou desânimo; começou a se difundir no meio do grupo a ideia de continuar até as seis. Eu fui o encarregado pelo grupo de “passar a conversa” no Gerente. Vamos tentar! Embalado pelo ânimo geral, pelo teor alcoólico em nível bom para argumentar, a inspiração veio forte.

Entre os muitos argumentos, parece que o econômico financeiro foi o mais eficiente: fiz ver ao Sr. Gerente, autoridade máxima da casa ali presente, o quanto iriam lucrar com o grupo numeroso de paulistas consumindo e gastando. Resultado: VITÓRIA!

 É o que considero o “grande feito” de conseguir prolongar por uma hora, em pleno fim de noite, o funcionamento da mais famosa gafieira do Rio de Janeiro.
A noitada prosseguiu a todo o vapor, saímos depois das seis e chegamos ao hotel ainda com apetite para um excelente café da manhã, antes de todos irem dormir o sono dos justos, sob a proteção e as bênçãos dos deuses do samba.

A “vitória” foi tão saborosa que hoje, mais de 30 anos passados, ainda é lembrada como um momento de imensa satisfação para todos que lá estiveram.

Encaminhe seus comentários.


12/04/2018

Chama o Epcot Center!



Prezados,


Houve um período em minha vida profissional, década 1960, em que eu não tinha nenhum vínculo de emprego. Como engenheiro civil, fazia estudos, projetos, consultorias, obras, e tudo que fosse afim.

Um amigo tinha contratos com várias construtoras que faziam obras de grandes armazéns para o IBC- Instituto Brasileiro do Café, e contratou-me para fazer vistorias em todas. 

À época fizemos um estudo econômico e foi vantajoso contratar um pequeno avião, pois com ele eu poderia passar por três ou quatro obras em cidades distintas no mesmo dia.

Varginha, Minas Gerais. Chegamos lá no minúsculo “teco-teco”, onde cabiam apenas o piloto e eu. Por defeito no rádio, o pessoal de obra que viria nos buscar não apareceu. No “aeroporto” apenas um zelador e um painel com o símbolo da já inexistente: Real Aerovias. Telefone? Não. Taxi? Nada.

Solução sugerida pelo zelador: levantar voo, procurar onde tem muitos ônibus – é a Rodoviária – baixar um pouco o avião e dar umas rajadas de motor. É o sinal já conhecido dos taxistas para vir aqui.

Indagado pelo piloto se eu iria junto, respondi que “jamais perderia esta experiência em meu curriculum”. Feito exatamente como indicado, vimos do alto o taxista ir para o carro e dirigir-se ao Aeroporto. Tudo perfeito.

Após alguns anos, Varginha tornou-se famosa pela visita do ET.
Fiquei na dúvida se ele precisou seguir o mesmo roteiro. Como seria o ruído do disco-voador sobre a Rodoviária para chamar a atenção dos taxistas? E como estes trataram os ilustres visitantes? Quem souber favor informar-me!

Depois, conhecendo o EPCOT CENTER na Disneyworld, achei que, no pavilhão em que narram a história das comunicações na humanidade, faltou uma visita a Varginha, MG, Brazil. Afinal, tínhamos ali o meio-caminho entre o sinal de fumaça dos índios e o telefone celular.

Disney Corporation! Ainda dá tempo de corrigir esta falha do Epcot.

Encaminhe seus comentários.


02/04/2018

Borra de Café



 Prezados, 


Como filho de libaneses, estou acostumado desde criança, a ver as velhas senhoras patrícias, ler a sorte das pessoas na borra do café. O café árabe é muito forte, não é coado, deixando-se que a borra decante no fundo do bule.

Após tomar a bebida, a xícara é virada sobre o pires por alguns segundos.  É pelo “desenho” ali formado são feitas revelações, previsões e tudo o mais que haja interesse. No entanto, nunca imaginei que isto poderia ser um modo de gerar renda a ponto até de sustentar uma família. Foi o que ocorreu e será relatado em seguida.

José Isper, brasileiro de família libanesa, era funcionário do Governo Brasileiro no Itamarati (Relações Exteriores) e trabalhava na Embaixada em Beirute. Era vizinho da família de minha tia Hanne (irmã de meu pai) e, em viagem ao Brasil, meus primos recomendaram para nos visitar e forneceram nosso endereço. Daí surgiu nossa amizade com Isper.

Tendo falecido no Líbano, Isper deixou esposa (Bárbara) e cinco filhos. Lidando com dificuldades financeiras, resolveram mudar-se para o Brasil, onde lhes demos o suporte e apoio no que foi possível. Então, Bárbara resolveu ler a sorte na borra de café para sustentar a família, e o fez com sucesso. Tornou-se famosa, e foi assunto para reportagens em revistas, jornais e televisão.

Certa vez minha prima Marli contou-me sobre “uma patrícia, aonde vai sempre com a Marilis, que lê a sorte na borra do café e sempre acerta tudo. Você conhece?”
Enfim, fez sucesso!

Bárbara também era uma cozinheira fantástica e transmitiu este dom para suas duas filhas, Olinda e Xmune, que hoje fazem sucesso com a melhor cozinha árabe de São Paulo na Tenda do Nilo, na rua Coronel Oscar Porto esquina com Abílio Soares. Nunca quiseram expandir, o lugar continua pequeno, mas está sempre lotado. A clientela é fidelíssima. Só não sei dizer se herdaram também o dom da mãe, em ler a sorte na borra do café.

Deixo aqui minha homenagem à Dona Bárbara, libanesa guerreira, corajosa, lutadora, que me faz lembrar outra libanesa com as mesmas qualidades.  Anesther, minha mãe.

Quantas saudades!

Encaminhe seus comentários