Prezados,
Com grande divulgação na imprensa, foi formado um grupo
multinacional de cientistas para estudos astronômicos, aproveitando uma
oportunidade única, quase impossível de voltar a acontecer, de um eclipse solar
que iria ocorrer em 12 de novembro de 1966.
Formaram-se vários pontos de observação e pesquisa, mas o
mais importante foi na Praia do Cassino, em Rio Grande. Foi montada uma imensa
estrutura para lançamento de foguetes pela NASA, com dezenas de prédios,
plataformas, abertura de ruas, radares, computadores, trailers equipados com
instrumentos, etc... Participaram vários países, e na época, falou-se em cerca
de quatrocentos cientistas participantes, de diversas origens.
Foi algo de uma
grandiosidade nunca vista até então no Brasil. E, no “meu” Cassino...
Claro que eu não poderia perder esta. Junto com outro
rio-grandino Adib Salomão e sua esposa Juçara, vencemos 1400 km num fusquinha
para assistir o grande momento. E foi realmente um GRANDE momento. Resolvi que
iria assistir dentro do mar.
Calor, sol forte e um dia lindo, entrei no mar e, pouco
depois das 11 horas começou a escurecer e bater um vento suave e fresquinho. O
dia virou noite, escuridão total, iluminada apenas pelos foguetes que iam sendo
lançados. Foram muitos. Não sei a
quantidade, talvez quinze a vinte. A beleza e a emoção do momento são
indescritíveis e inesquecíveis. Foi rápido e, em alguns minutos voltou a
clarear e tudo retornou ao normal. Ou quase. Nas memórias dos que lá estavam a
marca ficou indelével.
Hoje ainda se encontram algumas ruínas das estruturas, e os
moradores mais antigos ainda comentam o fato. Uma pequena NASA, e no “meu”
Cassino!
Ao relatar isto, ocorreu-me outro caso: uma sugestão. Creio
que ainda dá para conseguir o livro “O homem que morreu três vezes”, do
jornalista Fernando Molica; Leiam! Conta as aventuras de um personagem atípico,
Antônio Expedito Carvalho Pereira (foi também Perera); de tão rocambolesco,
parece um romance de ficção, mas não é. Era
TUDO VERDADE! Expedito era nosso amigo.
Na continuação da história acima, sobre a NASA, o Adib levou
um puxão de orelhas do Zé, o irmão médico, por ter vindo de carro com a Juçara grávida. Iriam então deixar o carro
em Rio Grande, mas eu me dispus a levá-lo a São Paulo. Fiz este caminho dezenas
de vezes, depois da construção da BR-2, atual BR-116, no governo JK. Deixei o
casal no Aeroporto em Porto Alegre, e segui viagem.
Entrando, encontraram o Expedito, que ao saber que eu iria
sozinho, quis ir junto, mas não deu tempo. Quando correram para a rua eu estava
já na pista de velocidade da rodovia, e concluíram que nenhum táxi iria me
alcançar. Se tivesse ido comigo, provavelmente eu estaria depois nos arquivos
do SNI – Serviço Nacional de Informações, que monitorava a vida de qualquer
suspeito. Quem era Expedito?
Gaúcho como eu, advogado, inteligência brilhante, dotado de
gostos caros e sofisticados (quando preso político, usava na cadeia “robe de
chambre” de seda da melhor qualidade para fumar seu cachimbo), conseguiu na
política mobilizar-se entre as extremas direita e esquerda. Mudou-se para São
Paulo por razões políticas ocorridas no R.G.do Sul, e nos tornamos amigos
através do Adib, que o ajudou muito.
Próximos passos da história: escondeu em
sua casa o procuradíssimo Carlos Lamarca. Estava num grupo de 70 presos que
foram trocados pelo sequestro de um embaixador, e foi para o Chile, em seguida, estabeleceu-se em Paris, onde abriu uma loja no ramo de artes, mas era disfarce
para outra atividade: tornou-se parceiro do famoso Carlos Chacal, considerado à
época o maior terrorista do mundo; fugindo da França, estabeleceu-se na Itália,
com nome falso – Paulo Parra – onde abriu uma clínica de Psicologia. Tenho a
convicção de que sua história daria um bom filme.
Acho que algum cineasta ainda
irá descobrir isto.
Mas isso é outra história!
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