Como filho de libaneses, estou acostumado desde criança, a
ver as velhas senhoras patrícias, ler a sorte das pessoas na borra do café. O
café árabe é muito forte, não é coado, deixando-se que a borra decante no fundo
do bule.
Após tomar a bebida, a xícara é virada sobre o pires por
alguns segundos. É pelo “desenho” ali formado
são feitas revelações, previsões e tudo o mais que haja interesse. No entanto,
nunca imaginei que isto poderia ser um modo de gerar renda a ponto até de
sustentar uma família. Foi o que ocorreu e será relatado em seguida.
José Isper, brasileiro de família libanesa, era funcionário
do Governo Brasileiro no Itamarati (Relações Exteriores) e trabalhava na
Embaixada em Beirute. Era vizinho da família de minha tia Hanne (irmã de meu
pai) e, em viagem ao Brasil, meus primos recomendaram para nos visitar e
forneceram nosso endereço. Daí surgiu nossa amizade com Isper.
Tendo falecido no Líbano, Isper deixou esposa (Bárbara) e cinco
filhos. Lidando com dificuldades financeiras, resolveram mudar-se para o
Brasil, onde lhes demos o suporte e apoio no que foi possível. Então, Bárbara
resolveu ler a sorte na borra de café para sustentar a família, e o fez com
sucesso. Tornou-se famosa, e foi assunto para reportagens em revistas, jornais
e televisão.
Certa vez minha prima Marli contou-me sobre “uma patrícia,
aonde vai sempre com a Marilis, que lê a sorte na borra do café e sempre acerta
tudo. Você conhece?”
Enfim, fez sucesso!
Bárbara também era uma cozinheira fantástica e transmitiu
este dom para suas duas filhas, Olinda e Xmune, que hoje fazem sucesso com a
melhor cozinha árabe de São Paulo na Tenda do Nilo, na rua Coronel Oscar Porto esquina
com Abílio Soares. Nunca quiseram expandir, o lugar continua pequeno, mas está
sempre lotado. A clientela é fidelíssima. Só não sei dizer se herdaram também o
dom da mãe, em ler a sorte na borra do café.
Deixo aqui minha homenagem à Dona Bárbara, libanesa guerreira,
corajosa, lutadora, que me faz lembrar outra libanesa com as mesmas qualidades.
Anesther, minha mãe.
Quantas saudades!
Encaminhe seus comentários
Muito bom!
ResponderExcluirDeu atévontade de tomar o café árabe.
Parabéns.
Muito interessante!Adorei a idéia do blog Jasel. Amei o nome da mãe, até falei com ela mais de vez,mas nunca soube o nome. Grande abraço!! Bjuss
ResponderExcluirObrigado pela leitura, pela força e pela lembrança, querida Ro. Grande abraço a todos.
ExcluirParabéns! A Nani me incentivou a leitura e estou amando as histórias. Aguardo ansiosa a próxima. Abraço
ResponderExcluirQue bom que esteja gostando; espero que continue tambem com as próximas. Peço que envie sempre sua opinião e críticas quando houver; estará me ajudando muito. Obrigado pelo interesse, grande abraço.
ExcluirComo brimo desleixado, confesso nunca ter pedido a leitura da borra, embora tenha curiosidade. Grande abraço!
ResponderExcluirGuilherme Tauil
Prezado Tauil, ainda está em tempo de "corrigir" esta deficiência, providencie uma leitura da borra do café para Você. Mas sinto que ( e talvez seja este um dos motivos) este hábito parece estar "fora de moda"; faz tempo que não vejo alguém praticando-o. Espero que tenha boa sorte quando fizer a sua. Grande abraço.
ExcluirQue show Vô Jasel!!
ResponderExcluirParece que aqui no Al Nur, tem uma Sr que faz essa leitura, em um dia da semana.
Desconfio (aliás, tenho certeza) de que sei quem é este "Anônimo/a". Toda sexta-feira tem um almoço de libaneses no Lubnan, aí em Porto; qualquer hora Nani e eu vamos num desses e aproveitamos pra te dar um abraço. Boa sorte na sua leitura no Al Nur. Bjs a todos.
Excluir