02/04/2018

Borra de Café



 Prezados, 


Como filho de libaneses, estou acostumado desde criança, a ver as velhas senhoras patrícias, ler a sorte das pessoas na borra do café. O café árabe é muito forte, não é coado, deixando-se que a borra decante no fundo do bule.

Após tomar a bebida, a xícara é virada sobre o pires por alguns segundos.  É pelo “desenho” ali formado são feitas revelações, previsões e tudo o mais que haja interesse. No entanto, nunca imaginei que isto poderia ser um modo de gerar renda a ponto até de sustentar uma família. Foi o que ocorreu e será relatado em seguida.

José Isper, brasileiro de família libanesa, era funcionário do Governo Brasileiro no Itamarati (Relações Exteriores) e trabalhava na Embaixada em Beirute. Era vizinho da família de minha tia Hanne (irmã de meu pai) e, em viagem ao Brasil, meus primos recomendaram para nos visitar e forneceram nosso endereço. Daí surgiu nossa amizade com Isper.

Tendo falecido no Líbano, Isper deixou esposa (Bárbara) e cinco filhos. Lidando com dificuldades financeiras, resolveram mudar-se para o Brasil, onde lhes demos o suporte e apoio no que foi possível. Então, Bárbara resolveu ler a sorte na borra de café para sustentar a família, e o fez com sucesso. Tornou-se famosa, e foi assunto para reportagens em revistas, jornais e televisão.

Certa vez minha prima Marli contou-me sobre “uma patrícia, aonde vai sempre com a Marilis, que lê a sorte na borra do café e sempre acerta tudo. Você conhece?”
Enfim, fez sucesso!

Bárbara também era uma cozinheira fantástica e transmitiu este dom para suas duas filhas, Olinda e Xmune, que hoje fazem sucesso com a melhor cozinha árabe de São Paulo na Tenda do Nilo, na rua Coronel Oscar Porto esquina com Abílio Soares. Nunca quiseram expandir, o lugar continua pequeno, mas está sempre lotado. A clientela é fidelíssima. Só não sei dizer se herdaram também o dom da mãe, em ler a sorte na borra do café.

Deixo aqui minha homenagem à Dona Bárbara, libanesa guerreira, corajosa, lutadora, que me faz lembrar outra libanesa com as mesmas qualidades.  Anesther, minha mãe.

Quantas saudades!

Encaminhe seus comentários


9 comentários:

  1. Anônimo2/4/18 14:50

    Muito bom!
    Deu atévontade de tomar o café árabe.
    Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante!Adorei a idéia do blog Jasel. Amei o nome da mãe, até falei com ela mais de vez,mas nunca soube o nome. Grande abraço!! Bjuss

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela leitura, pela força e pela lembrança, querida Ro. Grande abraço a todos.

      Excluir
  3. Parabéns! A Nani me incentivou a leitura e estou amando as histórias. Aguardo ansiosa a próxima. Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que esteja gostando; espero que continue tambem com as próximas. Peço que envie sempre sua opinião e críticas quando houver; estará me ajudando muito. Obrigado pelo interesse, grande abraço.

      Excluir
  4. Anônimo8/4/18 17:32

    Como brimo desleixado, confesso nunca ter pedido a leitura da borra, embora tenha curiosidade. Grande abraço!
    Guilherme Tauil

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Tauil, ainda está em tempo de "corrigir" esta deficiência, providencie uma leitura da borra do café para Você. Mas sinto que ( e talvez seja este um dos motivos) este hábito parece estar "fora de moda"; faz tempo que não vejo alguém praticando-o. Espero que tenha boa sorte quando fizer a sua. Grande abraço.

      Excluir
  5. Anônimo8/4/18 21:32

    Que show Vô Jasel!!
    Parece que aqui no Al Nur, tem uma Sr que faz essa leitura, em um dia da semana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Desconfio (aliás, tenho certeza) de que sei quem é este "Anônimo/a". Toda sexta-feira tem um almoço de libaneses no Lubnan, aí em Porto; qualquer hora Nani e eu vamos num desses e aproveitamos pra te dar um abraço. Boa sorte na sua leitura no Al Nur. Bjs a todos.

      Excluir

Obrigado pelo seu comentário.